Se você já foi a uma consulta médica ou pesquisou sobre saúde na internet, provavelmente já se deparou com o termo IMC. Mas será que você sabe, de fato, o que ele representa? E mais: será que ele realmente traduz o seu estado de saúde?
Resolvi escrever esse artigo para falar sobre IMC de forma clara e sem mitos.
O que é IMC e para quê ele serve?
IMC significa Índice de Massa Corporal, um cálculo que relaciona o seu peso com a sua altura.
A fórmula foi criada no século XIX por um estatístico belga chamado Adolphe Quetelet, mas só se popularizou como ferramenta médica a partir da década de 1970, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a utilizá-la em estudos populacionais.
Na prática, o IMC serve como uma triagem inicial para indicar se uma pessoa está dentro do peso considerado “adequado” para sua altura.
É rápido, fácil de calcular e ajuda profissionais de saúde a detectarem possíveis riscos relacionados à obesidade, desnutrição ou sobrepeso.
IMC e obesidade no Brasil: o que dizem os dados?
Segundo dados da pesquisa Vigitel 2023, realizada pelo Ministério da Saúde, mais da metade da população adulta brasileira (57,8%) está com excesso de peso (IMC ≥ 25), e cerca de 22% são considerados obesos (IMC ≥ 30).
O crescimento da obesidade é um problema global. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, até 2035, a obesidade pode atingir mais de 50% da população mundial se nada for feito.
O impacto disso vai muito além da estética: a obesidade está associada a mais de 200 doenças, incluindo:
- Diabetes tipo 2
- Hipertensão
- Doenças cardiovasculares
- Apneia do sono
- Cânceres associados ao excesso de gordura corporal
- Infertilidade
- Depressão e ansiedade
Por isso, o IMC ainda é uma ferramenta útil em estudos populacionais, como um alerta para políticas públicas de saúde.
E qual é o “IMC ideal”?
De forma geral, o intervalo considerado saudável vai de 18,5 a 24,9.
Mas esse número não é um objetivo fixo. Uma pessoa pode ter um IMC de 25 e estar perfeitamente saudável, se tiver bom condicionamento, composição corporal adequada, exames normais e bem-estar físico e mental.
Portanto o mais importante é entender o contexto de cada pessoa.
Como calcular o meu IMC?
O IMC (ou Índice de Massa Corporal) é um cálculo simples que ajuda a estimar se o seu peso está adequado para a sua altura.
Para calcular o seu IMC, basta dividir o seu peso pelo quadrado da sua altura:
IMC = Peso (kg) ÷ Altura² (m²)
Exemplo:
Uma pessoa com 70 kg e 1,65 m de altura:
IMC = 70 ÷ (1,65 × 1,65) = 25,7
Ainda de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o resultado do IMC classifica a pessoa em uma escala que vai de “Abaixo do Peso” a “Obesidade Grau III”, conforme dados abaixo:
IMC (kg/m²) | Classificação |
---|
Menor que 18,5 | – Abaixo do peso |
18,5 – 24,9 | Peso normal |
25 – 29,9 | Sobrepeso |
30 – 34,9 | Obesidade grau I |
35 – 39,9 | Obesidade grau II |
≥ 40 | Obesidade grau III (mórbida) |
IMC varia entre homens e mulheres?
Apesar das diferenças fisiológicas entre homens e mulheres, os valores de referência do IMC são os mesmos para ambos os sexos. Isso acontece porque o IMC é apenas uma média estatística e não leva em consideração fatores como:
- Massa muscular
- Gordura corporal
- Distribuição de gordura
- Idade
- Etnias ou biotipos
E, por isso, repito: ele não deve ser usado isoladamente para avaliar a saúde de alguém.
Mas atenção: IMC não é tudo
Embora o IMC seja uma ferramenta útil, ele não diferencia massa muscular de gordura, nem considera a distribuição da gordura corporal, a exemplo da gordura abdominal, que é mais inflamatória e perigosa.
Por isso, é possível ter um IMC “normal”, mas ainda assim estar em risco por ter um alto percentual de gordura visceral. Ou, ao contrário, ter um IMC mais alto devido à grande quantidade de massa muscular (comum em atletas) e estar saudável.
O seja: nem todo mundo com IMC elevado é metabolicamente doente, e nem todo magro está saudável. Por isso, a avaliação médica deve ir muito além dos números da balança.
O IMC é um primeiro sinal de alerta que precisa ser interpretado dentro de um contexto clínico completo.
E como avaliar além do IMC?
Existem exames e métodos muito mais precisos para entender a composição corporal, como:
- Bioimpedância
- Densitometria corporal (DEXA)
- Avaliação do percentual de gordura
- Medidas de circunferência abdominal
- Análise metabólica e hormonal por exames laboratoriais
Essas ferramentas nos ajudam a entender como está distribuído o peso, qual a quantidade de massa muscular, gordura visceral, retenção de líquido e até indicadores de inflamação crônica.
Como o IMC é usado na prática clínica?
Na minha atuação como médica, uso o IMC apenas como primeiro indicador. A partir daí, sigo com uma abordagem muito mais ampla, que inclui:
- Exames laboratoriais e hormonais
- Fatores emocionais e comportamentais
- Avaliação da composição corporal
- Rotina alimentar, sono e prática de atividade física
- Histórico clínico e familiar
- Avaliação de sintomas como fadiga, compulsão, inflamação, ansiedade ou alterações menstruais;
Tudo isso faz parte do Método Integral Health, um Método que desenvolvi a partir da convicção que doenças são quase sempre geradas por mais de um fator e, por isso mesmo, precisam ser tratadas de maneira multifatorial.
É o que chamamos de cuidar do paciente como um todo: corpo, mente e comportamento.
O que você precisa levar deste artigo
O IMC é um instrumento simples, de baixo custo e fácil aplicação. Ele pode ser útil como ponto de partida para entender se existe excesso ou insuficiência de peso. Mas ele não é diagnóstico, nem pode ser usado isoladamente para avaliar sua saúde.
Por isso, evite se prender apenas ao número. O mais importante é avaliar sua saúde de forma completa, com profissionais capacitados, exames adequados e um plano personalizado.
Se você sente que algo não vai bem com o seu corpo, se tem dificuldades para emagrecer, sente cansaço, inflamação ou não se reconhece mais na sua forma física, talvez seja hora de olhar para isso com mais cuidado.
A saúde não está no peso ideal — mas no equilíbrio entre corpo, mente e comportamento.
—
Dra. Priscilla Proença
Fundadora da Sensce ClinicSPA
Criadora do Método Integral Health
Pós-Graduada em Nutrologia
Pós-Graduada em Endocrinologia
Pós-Graduanda em Saúde Mental Integrativa
Extensão em Medicina do Estilo de Vida – Universidade de Harvard (EUA)
Extensão em Obesidade – Universidade de Columbia (EUA)
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