Se você tem dúvidas sobre os efeitos do excesso de peso no seu corpo, ou pensa que “obesidade é só uma questão estética”, este artigo é para você.
A obesidade é uma condição médica crônica, multifatorial e progressiva e não pode mais ser ignorada ou minimizada.
Como médica especializada em Nutrologia e Endocrinologia e com cursos de Extensão em Medicina do Estilo de Vida e Obesidade, resolvi escrever este artigo para te explicar com clareza quais são os reais riscos que o excesso de peso pode causar na sua saúde, porque é tão difícil “emagrecer sozinho” e por que é essencial iniciar o tratamento o quanto antes.
Mas, calma, este texto não é para te assustar. O meu objetivo aqui é te informar com responsabilidade, base científica e experiência clínica que sobrepeso ou obesidade são condições que podem gerar outras consequências negativas para a sua saúde e, por isso, precisam ser tratadas.
Mas afinal, o que é obesidade?
Obesidade não é apenas estar “acima do peso ideal”. Trata-se de uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que pode gerar inflamação crônica, alterações hormonais e metabólicas, afetando praticamente todos os sistemas do corpo.
Ela é medida, geralmente, por meio do Índice de Massa Corporal (IMC). Segundo os critérios da OMS, a faixa considerada como “peso saudável” ou “eutrofia” é de 18,5 e 24,9 kg/m².
O que é IMC?
O IMC (ou Índice de Massa Corporal) é um cálculo simples que ajuda a estimar se o seu peso está adequado para a sua altura.
Para calcular o seu IMC, basta dividir o seu peso pelo quadrado da sua altura:
IMC = Peso (kg) ÷ Altura² (m²)
Mas atenção: IMC não é tudo
Embora o IMC seja uma ferramenta útil, ele não diferencia massa muscular de gordura, nem considera a distribuição da gordura corporal, a exemplo da gordura abdominal, que é mais inflamatória e perigosa.
Ou seja: nem todo mundo com IMC elevado é metabolicamente doente, e nem todo magro está saudável. Por isso, a avaliação médica deve ir muito além dos números da balança.
O IMC é um primeiro sinal de alerta que precisa ser interpretado dentro de um contexto clínico completo.
Se você tiver interesse em saber mais sobre IMC, eu escrevi um Artigo apenas sobre isso.
A obesidade é uma epidemia silenciosa — e o Brasil está no centro
Segundo o Ministério da Saúde, mais da metade da população adulta brasileira está com excesso de peso.
Os dados da Pesquisa Vigitel 2023 revelam que 56,8% dos brasileiros com 18 anos ou mais estão com sobrepeso e mais de 22% da população adulta já é considerada obesa
Entre 2006 e 2023, o número de pessoas com obesidade dobrou no país.
Segundo o IBGE, a obesidade também atinge cerca de 33% das crianças e adolescentes brasileiros, o que acende um alerta importante para as próximas gerações.
No mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a obesidade como uma epidemia global — com mais de 1 bilhão de pessoas afetadas. Isso a torna um dos maiores desafios de saúde pública do século 21.
Os principais riscos da obesidade para sua saúde
A obesidade não afeta apenas a autoestima. Ela interfere diretamente no funcionamento do corpo, aumentando o risco de desenvolver uma série de doenças.
Pessoas obesas ou acima do peso possuem mais predisposição de desenvolver uma série de doenças. A seguir, explico as mais frequentes:
1. Doenças cardiovasculares
A obesidade é um dos principais fatores de risco para:
- Hipertensão arterial
- Infarto do miocárdio
- Acidente vascular cerebral (AVC)
- Insuficiência cardíaca
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, pessoas com obesidade têm até duas vezes mais risco de sofrer um evento cardíaco em comparação a pessoas com peso adequado.
2. Diabetes Tipo 2
O acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal, está diretamente ligado à resistência à insulina — o que pode levar ao desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Estudos indicam que cerca de 80% das pessoas com diabetes tipo 2 também têm sobrepeso ou obesidade.
3. Síndrome metabólica
Caracterizada por um conjunto de alterações como:
- Glicemia alterada
- Pressão alta
- Triglicerídeos elevados
- HDL (colesterol bom) baixo
- Circunferência abdominal aumentada
Essa combinação é altamente inflamatória e aumenta consideravelmente o risco de infarto, AVC e outras complicações.
4. Desequilíbrios hormonais e fertilidade
Em mulheres, a obesidade está associada a:
- Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
- Infertilidade
- Alterações menstruais
- Riscos maiores na gestação
Nos homens, pode haver redução da produção de testosterona, queda de libido, disfunção erétil e piora da qualidade dos espermatozoides.
5. Transtornos emocionais e saúde mental
Obesidade e saúde mental estão intimamente conectadas. Pessoas com obesidade têm risco aumentado de desenvolver:
- Depressão
- Ansiedade
- Distúrbios do sono
- Isolamento social
E o contrário também é verdade: problemas emocionais não tratados podem contribuir para o ganho de peso. Por isso, o cuidado precisa ser integral, e nunca focado apenas no corpo.
6. Desgaste articular e problemas ortopédicos
O excesso de peso sobrecarrega articulações importantes como joelhos, quadris e coluna, favorecendo quadros de:
- Artrose
- Hérnias de disco
- Dores crônicas
Em casos mais graves, o impacto pode limitar a mobilidade e a qualidade de vida.
7. Risco aumentado de câncer
Nem todo mundo sabe, mas a obesidade é considerada pela OMS como fator de risco para pelo menos 13 tipos de câncer, incluindo:
- Câncer de mama
- Cólon e reto
- Fígado
- Esôfago
- Endométrio
- Rim
- Vesícula biliar
Isso se deve à inflamação crônica de baixo grau, às alterações hormonais e ao ambiente propício ao crescimento celular anormal.
Por que é tão difícil emagrecer sem ajuda?
Quase sempre a obesidade ou sobrepeso são causados por uma série de fatores, dentre os quais podemos destacar:
- Genética
- Desregulação hormonal
- Relação emocional com a comida
- Comportamento alimentar
- Sedentarismo
- Saúde mental
- Sono inadequado
- Disbiose intestinal
Por isso, precisam ser tratados com um olhar personalizado, acolhedor e multidisciplinar, com foco no paciente, e não apenas no peso.
Quando buscar ajuda médica?
Se você está acima do peso, sente que seu corpo não responde mais como antes, tem sintomas como cansaço, fome constante, inchaço, compulsão ou insônia, já tentou emagrecer diversas vezes sem sucesso então este pode ser o momento de olhar para sua saúde com mais profundidade.
Quanto antes iniciar o tratamento da obesidade, menores os riscos, maiores as chances de sucesso e melhores os resultados a longo prazo.
Conclusão: obesidade é doença, e merece cuidado
A obesidade não é fraqueza, desleixo ou preguiça. É uma condição complexa, que exige ciência, escuta e acolhimento.
Os riscos para sua saúde são reais, mas com o tratamento certo, é possível reduzi-los, controlar o peso e viver com mais qualidade, energia e autoestima.
Mudar hábitos e cuidar da saúde exige coragem. Mas é justamente nessa decisão que começa uma nova fase, com mais leveza, autonomia e qualidade de vida.
Dra. Priscilla Proença
Fundadora da Sensce ClinicSPA
Criadora do Método Integral Health
Pós-Graduada em Nutrologia
Pós-Graduada em Endocrinologia
Pós-Graduanda em Saúde Mental Integrativa
Extensão em Medicina do Estilo de Vida – Universidade de Harvard (EUA)
Extensão em Obesidade – Universidade de Columbia (EUA)
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